Porcelanato, grés, azulejo
O que diferencia as cerâmicas? Conheça as características e o
comportamento
de cada revestimento antes de especificar
O
Brasil ocupa a quarta posição mundial na produção
de revestimentos cerâmicos, perdendo apenas para China, Itália e Espanha. Não
há nada de anormal em sermos um dos países onde mais se especifica esse tipo de
acabamento para pisos e fachadas.
O que impressiona é o fato de grande parte das patologias
decorrer da falta de projeto adequado e conhecimento das características
técnicas dos revestimentos cerâmicos, que dependem da correta especificação e
assentamento para oferecerem o desempenho ideal.
Classificados de acordo com a porosidade do biscoito (base) e
pelo método de fabricação, os revestimentos cerâmicos podem ser do tipo porcelanato,
grés, semigrés, semiporoso, poroso, azulejo e azulejo fino.
"A absorção de água é um indicativo da resistência mecânica
de um revestimento cerâmico". De
acordo com a norma, para cada grupo de absorção de água (porosidade) é
associada uma carga de ruptura mínima e um
módulo
de resistência à flexão mínimo.
"Peças mais porosas resistem menos à ruptura". Tão
importante quanto conhecer as propriedades dos revestimentos cerâmicos é saber
especificá-los corretamente de acordo com o local de uso. Os revestimentos
cerâmicos devem, antes de qualquer coisa, resistir às exigências das cargas a
que serão submetidos e que dependem do local da aplicação. "As exigências de
uma fachada ou parede são bem menores do que a de um piso, que está submetido a
maiores esforços mecânicos".
Vermelha x
branca
No que se refere à aparência, os materiais cerâmicos são
encontrados em diferentes padrões, texturas, formatos e cores. "Cerâmica
vermelha, por exemplo, é uma denominação muito utilizada para fabricação de
peças
estruturais (tijolos e telhas), enquanto cerâmica branca é um termo mais
utilizado para fabricação de revestimentos planos". As diferenças, estão
na tecnologia empregada: para a cerâmica branca o processo produtivo é mais
automatizado do que para a vermelha. Além disso, a fabricação da cerâmica
branca faz uso de matérias-primas melhor beneficiadas e com um custo maior, que
deixam a base do produto final com uma cor mais clara.
No entanto, a NBR 13818 não diferencia cerâmicas para
revestimento de base vermelha ou branca. Deve-se, esclarecer que o importante é
o projeto, a especificação em função do local de uso – com o conhecimento das
propriedades – e o assentamento correto. Dizer que cerâmica branca é melhor do
que a vermelha sem levar em consideração esses esclarecimentos é induzir o consumidor
a rejeitar um produto apenas pela cor e não pelas características.
"O
que importa é entender em que grupo de absorção a cerâmica se enquadra, se
atende aos requisitos mínimos da norma e se é adequada ao ambiente".
A classificação dos revestimentos cerâmicos é feita pelos grupos
de absorção de água (porosidade) e pelas exigências aos atendimentos das cargas
de ruptura e módulo de resistência à flexão.
Pisos
Diferente da fachada, o piso cerâmico requer peças com elevada
resistência mecânica, já que estará submetido a maiores esforços. Outra
característica importante para os pisos é o COF (sigla em inglês para
Coeficiente de Atrito Úmido). Revestimentos com coeficiente de atrito superior
a 0,4 são ideais para evitar o escorregamento.
No entorno de piscinas e em ambientes públicos, esse valor deve ser
superior a 0,7. "Se quisermos um revestimento cerâmico resistente a riscos
– ideal para halls de edifícios, por exemplo – devemos optar por um
produto com dureza Mohs igual a 7".
Cerâmicas do grupo BIIb saem em torno de R$ 10,00/m², enquanto que
o porcelanato pode sair por R$ 150,00/m². O indicado para ambientes domésticos
é o Semigrés ou o Semiporoso – dos grupos BIIb ou BIIa –. Garagens e cozinhas
devem receber aplicação de revestimentos (com resistência mecânica mínima) do
grupo BIIa. Devido à elevada resistência mecânica e durabilidade, o porcelanato
(grupo BIa) e o grés (grupo BIb) são indicados para ambientes submetidos a cargas
elevadas, como supermercados, shoppings e oficinas. "Isso não
impede que o usuário opte pelo porcelanato tanto para o piso quanto para a
parede de sua residência".
Resistência
Somente após especificar o revestimento pelo grupo de absorção
de água é que devem ser avaliadas as características de superfície. A
classificação da resistência à abrasão para peças esmaltadas é dada pelo índice
PEI, sigla que em inglês significa Porcelain Enamel Institute.
Não há, nas normas vigentes, uma classificação exata da cerâmica
quanto ao desgaste. "Trata-se de um assunto polêmico já que o ensaio para
medir a resistência à abrasão é muito superficial, baseado apenas na análise
visual". A norma, deveria
relacionar a dureza Mohs com dois outros valores: as resistências ao risco e à
abrasão.
Essas características da superfície irão complementar a
especificação
feita
pelo grupo de absorção de água. Superfícies submetidas a um tráfego intenso de
pessoas devem ser mais resistentes ao desgaste – PEI 4 ou 5, para superfícies
esmaltadas. "Infelizmente, na maioria das vezes, os revestimentos cerâmicos
são comercializados apenas pelo PEI, o que faz com que o consumidor associe a qualidade
do produto à resistência à abrasão ou desgaste do esmalte". As NBR 13754 e
NBR 13755, relacionadas ao assentamento de revestimento cerâmico com argamassa
colante, indicam alguns parâmetros para a execução de juntas de movimentação em
pisos. "Em pisos internos, elas devem ser feitas a cada 32 m², ou sempre
que uma das dimensões do revestimento for maior do que 8 m", esclarece
Nascimento. Em pisos externos, segundo a Norma, tais juntas devem ser feitas a
cada 20 m2 ou sempre que uma das dimensões do revestimento for maior do que 4
m.
Área
externa
Nos revestimentos cerâmicos para fachadas, mais importante do
que a resistência mecânica é a EPU (Expansão por Umidade) do material que, segundo
a NBR 13818/97, deve ser igual ou inferior a 0,6 mm/m. Por estar associada com
a qualidade da queima da cerâmica (temperatura e tempo de permanência), a EPU
independe da absorção de água da cerâmica.
"Se a argila da matéria-prima for queimada corretamente, a
água poderá entrar nos poros do material, mas não penetrará no interior dos
grãos de argila". A penetração da água no interior dos grãos da argila a
faz expandir ou estufar. Por não estarem submetidas a esforços tão intensos
quanto os do piso, as placas cerâmicas empregadas em paredes ou fachadas não
precisam ter alta resistência mecânica, podendo ser do grupo BIII, como os
azulejos.
Nos anos 80, os fabricantes induziam os usuários a optarem por
placas do grupo BIIa. Era uma maneira de evitar a penetração de água nos poros,
já que os grãos de argila não eram queimados corretamente. Atualmente, o
conceito de que uma peça que absorve menos água expande menos é uma inverdade.
Relacionada à execução de juntas de movimentação em fachadas, a NBR
13753 recomenda a execução de juntas horizontais espaçadas no máximo a cada 3 m
(ou a cada pé-direito) e na região de encunhamento da alvenaria e juntas
verticais a cada 6 m. "A realização de um projeto específico de dimensionamento
de juntas é fundamental, já que cada fachada possui um
determinado
comportamento que requer uma adaptação específica de cada material". O
desprendimento das placas cerâmicas – uma grave patologia que, além de danificar
a estética do edifício, pode provocar acidentes – pode ser evitado com uma
paginação adequada e com a previsão de juntas estruturais e de movimentação.
Em fachadas, o ideal é utilizar argamassas ACIII e/ou ACIII-E.
Essa tipologia é classificada de acordo com a NBR 14081/1988 em ACI (para
interiores), ACII (para exteriores) e ACIII (para situações onde se requer
maior aderência e flexibilidade).
Fachadas
ventiladas
No Brasil, ainda são raros os projetos com fachadas ventiladas,
sejam
cerâmicas
ou de qualquer outro material. Diferente dos revestimentos tradicionais
aderidos, em que as peças são fixadas ao substrato com argamassa ou colas, as
fachadas ventiladas oferecem melhor isolamento térmico ao edifício, graças à
circulação de ar na camada formada entre o revestimento e as paredes, ou pelas
juntas abertas. "O efeito chaminé criado permite a entrada inferior do ar
frio e saída superior do ar aquecido".
Além de melhorar o isolamento térmico, as fachadas ventiladas, trazem
vantagens com relação ao sistema mecânico. Uma das quais é a possibilidade de
uso de peças cerâmicas de grandes dimensões, o que não poderia ser feito com a
fixação pelo sistema colante, principalmente com as argamassas comumente
utilizadas. Outras vantagens com relação à fachada ventilada, são a facilidade
na troca de peças com problemas – basta desparafusar ou desencaixar – e o fim
do problema do desplacamento por falta de aderência da peça.
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