quinta-feira, 3 de julho de 2014

O Plano Real

Em 01/07/2014, o Plano Real e a moeda de mesmo nome completaram 20 anos, superando, já por larga margem, o tempo de circulação das últimas 6 moedas brasileiras.

Da mais recente para a mais antiga, tivemos: Cruzeiro Real (de 1993 a 1994), Cruzeiro (de 1990 a 1993), Cruzado Novo (de 1989 a 1990), Cruzado (de 1986 a 1989), novamente Cruzeiro (de 1970 a 1986 – a mais longeva depois do Real) e Cruzeiro Novo (de 1967 a 1970). Todas elas foram frutos de planos econômicos desesperados, que tentaram, sem sucesso, controlar a inflação de cerca de 1.000% ao ano que afligia o país. 

Seus fracassos estamparam a simplicidade de tais medidas, consistentes na mudança do nome da moeda e da retirada de “três zeros” de seu valor. O Plano Real, foi estruturado com base em diversos pilares que, juntos, permitiram a estabilização da moeda. Dentre eles, podemos citar o reequilíbrio fiscal (redução dos gastos públicos e aumento de impostos para gerar receita), a criação do Fundo Social de Emergência (cuja finalidade era “fazer caixa” para dar liberdade financeira ao governo), a fixação artificial do câmbio (no início do Plano, o Real valia mais do que o Dólar – medida adotada para incentivar as importações), aumento da taxa básica de juros e do depósito compulsório dos bancos (retirando, assim, uma grande quantidade de moeda de circulação), entre outras. 

À época (1993), as propostas do Plano Real foram duramente criticadas pela então oposição (hoje no governo), cujos representantes chegaram a votar contra a implementação. Porém, articulações políticas conduzidas diretamente pelo Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, conseguiram fazer passar as medidas no Congresso e o Plano entrou em vigor definitivamente em 01 de julho de 1994, operando a conversão de CR$2.750,00 em R$1,00.

De forma inconteste, o Real aumentou a capacidade de compra da população (ficaram célebres as campanhas do frango – R$1,00 comprava um quilo de carne da ave – e do iogurte, produto “elitizado” que passou a fazer parte das despesas de uma maior parte das famílias), muito por força do controle da inflação.

Antes do Plano, a desvalorização diária da moeda corroía o poder de compra do salário – muitas vezes, no caminho do banco até o supermercado os preços já haviam subido um pouco mais. Por outro lado, medidas polêmicas foram aplicadas, cujos efeitos são discutidos até hoje.

A principal delas foi a privatização de empresas e bancos estatais. De um lado, foram inseridas no contexto da redução de despesas públicas e aumento de sua produtividade (o que aumenta o PIB e, consequentemente, o salário mínimo). 

Diversas denúncias de corrupção, por outro lado, despontaram das negociações de venda dessas empresas, muitas das quais foram adquiridas por valor muito abaixo do seu patrimônio líquido. De toda forma, o Real representou a estabilização da vida financeira do país, que atravessou décadas de caos e hiperinflação.

O “dragão”, porém, apenas dorme: cabe ao governo manter-se atento para evitar um novo descontrole nos gastos e na moeda em circulação. Que nosso atual estágio de desenvolvimento perdure com parcimônia, sem dar passos maiores que as pernas. 

As conquistas desses últimos 20 anos são muito valiosas para serem perdidas para uma nova escalada da inflação.

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