segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Família fechada para balanço

Por Içami Tiba

Ninguém vê nenhuma placa em nenhum lugar com a mensagem: “família fechada para balanço”.

Para começo de conversa, o que acontece dentro da família interessa somente a ela mesma. É o que pensa a maioria das pessoas. Para complicar, muitos ainda pensam que a vida de cada um diz respeito somente a si mesmo.

Não existe nenhum ranking oficial que classifique as melhores famílias, nem entidades que as premiem.

O que não é raro acontecer são os reconhecimentos de uma entidade, comunidade e/ou associação com agradecimentos às famílias que tanto fizeram para ajudá-las, ou mesmo ouvir comentários da vizinhança sobre como aquela família vai bem, “olha o carro que eles compraram”.

Pode haver admiração, inveja ou os dois ao mesmo tempo.

Em paralelo, uma parte pequena, a mais espiritualizada, procura fazer um retiro espiritual, sabático, uma espécie de fechado para balanço individual, por meio de isolamentos, caminhadas, meditações, comidas frugais e sons monásticos.

Famílias com crianças pequenas gostam de viajar nas férias e passar junto o maior tempo possível.  Já é um bom começo, mas ainda não significa fechado para balanço, pois os lugares escolhidos são, em geral, parques de diversão, praias, montanhas, cruzeiros, resorts, ou seja, locais que proporcionam diversão em conjunto. A proposta dessas famílias é para uma convivência diferente da doméstica, cheia de diversões para crianças e cansaços para os pais que mais agem e atuam do que conversam. Pelo menos estão juntos, conhecendo-se mais, favorecendo, ou não, o fortalecimento dos vínculos familiares.

Famílias com filhos adolescentes ou adultos jovens têm que mudar suas propostas, pois cada um agora escolhe uma programação de férias que nem sempre coincide. Na melhor das hipóteses, formam-se dois grupos: o dos pais com filhos pequenos e o dos filhos maiores ou cada um com sua turma...

Pois é exatamente o momento oportuno para uma família se fechar em si, seja onde for, em casa, em um hotel, em um sítio. A proposta é simples: cada um conta exatamente como foi o seu ano, quais foram os resultados das empreitadas próprias, realizações pessoais, frustrações e sucessos inesperados, vitórias e derrotas conseguidas, satisfações e insatisfações pessoais, desejos realizados ou não. Também vale identificar acertos e erros cometidos, carências não preenchidas, perdas e danos sofridos, lucros e ganhos auferidos, ajudas fornecidas e recebidas, situações interessantes, riscos desnecessários, alegrias e prazeres usufruídos, benefícios e malefícios praticados e recebidos, presentes e favores trocados, objetivos e metas atingidos ou não e outros tantos itens que tiverem vontade de falar. É uma iniciativa semelhante à de rever o posicionamento de uma loja em balanço. 

Este balanço todo não pode ser feito sozinho? É claro que pode, mas esta é a primeira etapa do balanço familiar: falar de si mesmo para os outros familiares. Isso permite trocar informações valiosas. Assim eles têm como saber e participar, aprofundar e fortalecer o relacionamento, pois é a intimidade que facilita o amor e o companheirismo familiar.

A segunda parte é abordar os itens relacionados com cada um dos outros familiares. Veja: a ideia não é fomentar brigas, críticas, competições, confrontos, mas fortalecer a família cujo papel é servir, apoiar, confiar, ajudar, orientar e aconselhar uns aos outros. Assim a família poderia ser a equipe afetiva mais forte e satisfatória constante na vida de cada um dos seus integrantes.

Tudo depende do critério utilizado para a compreensão do que seja uma família.

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