terça-feira, 7 de junho de 2011

Sherazade e o valor do amor


Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e a dos anjos (...)
se eu não tivesse amor, eu nada seria.
PRIMEIRA CARTA DE SÃO PAULO AOS CORÍNTIOS, CAP 13

Algumas considerações sobre o tema

A palavra amor vem do latim amor, que quer dizer "amizade, dedicação, afeição, ternura, desejo grande, paixão, objeto amado". Os registros históricos sobre a evolução gráfica do vocábulo indicam que o termo já aparece grafado como amur no século XIV e aamoor e hamor no século XV.

     É, sem sombra de dúvida, uma das palavras mais fascinantes em todos os idiomas, tanto na cultura ocidental quanto na cultura oriental. Até porque, independentemente da língua escolhida, os significados desse termo trazem em seu bojo um caráter vigoroso e múltiplo. O amor é um conceito diverso, repleto de contrastes, antíteses, paradoxos e peculiaridades que o tornam tão singular quanto complexo. Por isso definí-lo é muito mais do que uma simples demonstração de conhecimento linguístico, é antes de tudo uma empreitada desafiadora. Prova de toda essa variedade de significações e dessa intensa batalha de antíteses presentes numa mesma palavra pode ser evidenciada num pequeno rol de citações que explica boa parte de sua dinâmica conceitual. Basta lembrar que o amor pode justificar, determinar, agregar, permitir, superar, perdoar, prolongar, solicitar. O amor também condena, absolve, revela, esconde, simula, expõe... O amor orienta, desnorteia, incendeia, esfria, congela, ferve... No amor estão presentes, ao mesmo tempo, os quatro elementos e os cinco sentidos... Por ele se luta, por ele se ganha, por ele se perde, por ele se joga, por ele se brinca, por ele se chora, por ele se vive, por ele se morre... Ele ataca e defende, derruba e sustenta, grita e silencia...

     Para que não restem dúvidas sobre suas facetas contraditórias, vamos recorrer aos dizeres geniais do poeta Luís de Camões, que, para muitos, foi o responsável por criar a linguagem do amor em língua portuguesa. É o que expressa o soneto abaixo:

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer

É um não querer, mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

E, já que estamos falando em língua portuguesa, é importante ressaltar que o termo tem numerosas acepções no dicionário, o que permite ao leitor um leque extenso de possibilidades de acordo com o emprego pretendido. Dentre elas, destacamos: "forma de interação psicológica ou psicobiológica entre pessoas, seja por afinidade imanente, seja por formalidade social; atração afetiva ou física que, devido a certa afinidade, um ser manifesta por outro; forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais; atração baseada no desejo sexual; afeição e ternura sentida por amantes; relação amorosa, aventura amorosa; caso, namoro; atração sexual natural entre as outras espécies animais; o ato sexual; afeição baseada em admiração, benevolência ou interesses comuns; calorosa amizade; forte afinidade; força agregadora e protetora que sentem os membros dos grupos, familiares ou não, entre si; a pessoa ou a coisa amada ou apreciada; comunhão íntima, coesão com o universo, com ou sem conotação religiosa; Deus como princípio dessa coesão universal; sentimento como de afeição e benevolência paterna atribuído a Deus em relação aos homens; devoção afetuosa devida a Deus em relação aos homens; devoção afetuosa devida a Deus por suas criaturas; sentimento de caridade, de compaixão de uma criatura por outra, inspirada pelo sentido de sua relação comum com Deus; devoçao de uma pessoa ou um grupo de pessoas por um ideal concreto ou abstrato; interesse, fascínio, entusiasmo, veneração, o objeto de tal interesse ou veneração; demonstração de zelo, dedicação; fidelidade; ambição, cobiça; um deus ou a personificação do amor; cada uma das divindades infantis subordinadas a Vênus e a Cupido; galanteios, expressões amorosas".
     A lista de definições ou tentativas de definição é longa. Mas seja na gramática, seja na poesia, seja na etimologia, seja na filosofia, a verdade é que basta estar vivo para saber - de maneira consciente ou inconsciente - que o amor transcnde qualquer ciência. Ele nasce, cresce e se multiplica, ocupando espaços maiores ou menores, mas sempre edificados com o que há de mais nobre no espírito e no coração do ser humano. 

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